quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eu sou igual a você

Quando você se assume ativista de algum movimento não pode mais se dar ao luxo de ser ingênuo, quando você tenta fazer as pessoas serem mais reflexivas e críticas precisa saber que vão usar isso contra você, que vão avaliar cada atitude sua, e algumas coisas se tornam inadmissíveis.
Me posiciono como feminista e “ativista” (apesar de não ser muito ativa) do movimento GLBT e isso é reafirmado cada vez que faço uma pergunta na faculdade, quando protesto sobre algo que considero injusto. As pessoas sempre me olham e sabem que lá vem alguma coisa, eu tento mexer com elas e isso resulta numa exposição de quem eu sou e dos erros que cometo.
Hoje durante minha aula (no curso) de inglês o professor fez um comentário sobre um vídeo que está fazendo muito sucesso na internet pelos trejeitos que um entrevistado faz, como eu já tinha visto estava tentando explicar como era e acabei soltando “o cara fala muito engraçado, fica balançando a cabeça daquele jeito americano e ele é gay!”. Na mesma hora eu me senti muito mal, achei aquilo um absurdo imenso, logo eu que adoro bater no peito e falar que sou contra todo tipo de estereótipo fiz exatamente igual às pessoas que critico tanto! Eu não sou melhor do que elas e nem nunca tentei ser, sempre que incorro numa situação dessas fico pensando que é preciso estar atento, toda hora as pessoas fazem piadas com os gays, com as mulheres, os gordos e acaba criando a impressão de que é normal, de que eles são mesmo divertidos.
A única maneira que encontro de me diferenciar dessas pessoas é quando me censuro, quando percebo que estou errada e conserto, me modifico. Ninguém é perfeito ou politicamente correto o tempo todo. Não dá. Mas dá sim pra tentar mudar, pra tentar ser diferente e saber que ser um exemplo de contestação, de mudança e de senso crítico é muito bom mas também é muito trabalhoso porque você quando se posiciona acaba sendo muito mais cobrado e precisa ter cuidado com as palavras. Ninguém disse que seria fácil. Nem eu ia querer se fosse.

domingo, 19 de setembro de 2010

"Eu não nasci de óculos. Eu não era assim"

Eu li todos os textos que estão no concurso de blogueiras da Lola e me deu uma vontade enorme de escrever mesmo não podendo mais participar, e bateu porque via todas as mulheres dizendo que sempre se sentiram feministas, que sempre souberam e achei importante mostrar o outro lado. Eu nunca me senti feminista. Eu não sabia.
Todas as minhas lembranças de criança são flashs comigo dançando jazz, brincando hooooras de boneca (e criando as novelas mais Glória Perez imagináveis) e tentando convencer minha mãe a me deixar usar maquiagem.
A primeira vez que percebi que “não” era igual aos meninos aconteceu porque tinha um amiguinho que eu adorava e que morava na rua da minha avó, de uma hora pra outra ela disse que eu não podia mais brincar com ele porque meninas não podem ser amigas de meninos. Eu fiquei chocada e não conseguia entender o motivo. Perguntei. Ela me respondeu que não era bonito, que as pessoas podiam comentar e que eles eram brutos e tinham brincadeiras bobas.
Durante toda minha vida escolar eu usava óculos e tinha (tenho) uma miopia cavalar, ou seja, “quatro olhos”, nenhum menino gostava de mim, eles faziam brincadeiras o tempo e riam, riam muito de mim. Eu tentava de todas as formas entender a diferença entre a loirinha do cabelo liso e eu, eu não via, não conseguia perceber. Me achava mais inteligente, amiga, engraçada e simpática do que ela que sempre era maldosa e fofoqueira, mas ela sempre levava a melhor.
Nada disso me fazia refletir sobre a condição de mulher, eu sempre achava que eram os óculos, só isso. Durante um tempo acho que eu acreditei que era tudo aquilo que eles falavam nas novelas, que eu gostava de tudo aquilo que eles me vendiam nos comerciais, mas uma hora eu tive um estalo e percebi que o problema não estava bem debaixo do meu nariz, ele estava bem no meio das minhas pernas.
Eu comecei a ler sobre teoria feminista (preciso ler muito mais) e a conhecer o drama das mulheres no mundo, não podia mais negar, não dava pra fingir que eram os óculos ou meu cabelo ou minha altura. Hoje sempre que se fala qualquer coisa sobre mulher na minha frente meus amigos brincam, fazem alguma piadinha, mas acho importante falar sempre, falar muito porque só assim outras pessoas (e não é só mulher que pode ser feminista) tomarão consciência e começarão a questionar. É extremamente importante que as pessoas perguntem, analisem, leiam.
Sempre que me perguntam por que eu não faço escova, porque eu não uso maquiagem eu pergunto por que deveria, porque você deveria?

(ainda vou voltar nisso muitas vezes, mas por enquanto recomendo que você leia os posts do concurso para ver o mesmo assunto de infinitos ângulos)